A volta à Escócia
Há viagens que nos marcam para sempre — não apenas pelos lugares que visitamos, mas pelas histórias que se entrelaçam com cada paisagem, pelas pessoas que cruzam o nosso caminho e pelo silêncio cheio de significado que encontramos no meio da natureza. A Escócia foi, para mim, uma dessas viagens. Dei a volta ao país e descobri muito mais do que castelos e lagos misteriosos: encontrei uma terra de contrastes, onde o passado se sente em cada ruína e a beleza bruta das montanhas nos lembra o quão pequenos somos perante a grandeza do mundo natural.

Rota pela Escócia: De Glasgow a Edimburgo, passando pelo coração das Highlands
Comecei a minha viagem em Glasgow, uma cidade vibrante que respira cultura, música e arte urbana. Não foi a minha cidade favorita, considero até que fiquei mal impressionada mal aterrei, contudo, decidi dar uma segunda oportunidade. Depois de explorar as margens do Clyde, visitar a Catedral e absorver a energia criativa do West End, pus-me a caminho rumo ao norte — com as Highlands no horizonte.
A estrada leva-nos por paisagens cada vez mais dramáticas: montanhas cobertas de névoa, lagos silenciosos e vilas que parecem paradas no tempo. Uma paragem obrigatória é Glencoe, um vale de cortar a respiração que carrega séculos de história e tragédia. Mesmo sob chuva (ou talvez por causa dela), o lugar tem uma beleza quase sobrenatural.



A Turf House da Escócia: quando a terra se transforma em abrigo
No meio da imponência das Highlands escocesas, onde as montanhas parecem tocar as nuvens e o silêncio fala mais alto do que qualquer palavra, há uma pequena construção que passa facilmente despercebida. Coberta de vegetação, quase camuflada na paisagem, está uma turf house — uma casa tradicional feita de turfa (solo vegetal), madeira e urze. Visitei uma dessas casas em Glencoe, e foi top.
Estas casas, comuns em tempos antigos, eram construídas com o que a terra dava. A turfa, retirada diretamente do solo, servia para levantar as paredes espessas. O telhado era feito com ramos, palha ou urze, criando um isolamento natural perfeito para enfrentar o clima severo da região. O interior era escuro, mas acolhedor. No chão, uma lareira simples aquecia o espaço e servia para cozinhar, e o fumo escapava lentamente por entre os ramos do telhado, deixando no ar aquele cheiro intenso e ancestral a madeira queimada e húmus.
A casa que visitei faz parte do Glencoe Visitor Centre, uma reconstrução fiel baseada em documentação histórica. Não é uma atração turística no sentido habitual — não há folhetos coloridos ou vitrines. Em vez disso, é uma experiência sensorial e imersiva: caminha-se pela relva até encontrar a pequena casa, entra-se por uma porta baixa e, de repente, estamos num outro tempo. Um tempo em que os seres humanos viviam em contacto direto com a terra.
O mais bonito? A forma como a casa se integra na paisagem, quase como se tivesse brotado do solo. Vista de longe, confunde-se com um monte coberto de erva. Mas por dentro, revela-se abrigo, história e engenho.



Seguindo a rota em direção a Fort William, os contrastes tornam-se mais evidentes — o verde intenso da vegetação, o cinzento das montanhas e a vastidão do Loch Linnhe. Aqui encontrei uma das minhas paisagens favoritas, o viaduto do Harry Potter
O Viaduto de Glenfinnan: magia sobre carris nas Highlands escocesas
A cerca de 30 minutos de Fort William, encontra-se um dos cenários mais icónicos da Escócia — e do cinema: o Viaduto de Glenfinnan, a impressionante ponte de pedra por onde passa o famoso comboio de Harry Potter a caminho de Hogwarts.
Construído no final do século XIX, este viaduto ferroviário é uma verdadeira obra de engenharia, com 21 arcos graciosos que se estendem por mais de 300 metros, atravessando um vale verdejante com vista para o Loch Shiel. Mas foi graças ao cinema que este lugar ganhou fama mundial: foi aqui que o Hogwarts Express, na verdade o histórico comboio a vapor Jacobite, foi filmado a atravessar o vale, com o seu característico fumo branco a desenhar-se contra o céu escocês.
Estar ali, em Glenfinnan, é como entrar numa cena de filme. Se tiveres sorte com o horário, podes ver o comboio a vapor a passar sobre o viaduto — um momento mágico, mesmo para quem não é fã de Harry Potter.


Mais à frente, a estrada serpenteia até ao lendário Loch Ness, onde não resisti a parar para procurar sinais do famoso monstro (sem sucesso, claro). O lago é imenso, sereno e envolto em lendas, com o castelo de Urquhart a espreitar do alto da colina — uma das vistas mais icónicas da Escócia.
De lá, Inverness surge como a "capital das Highlands", pequena, acolhedora e perfeita para um passeio junto ao rio Ness. Aproveitei para provar algumas especialidades locais e conversar com habitantes — sempre dispostos a partilhar histórias e recomendações.







A descida rumo a Edimburgo revelou um lado diferente da Escócia: mais planícies, aldeias agrícolas e castelos perdidos no meio do nada. Edimburgo, no final do percurso, é uma recompensa majestosa. A cidade impressiona com a sua arquitetura medieval, as ruas de pedra e o Castelo erguido sobre a rocha. Mas há também uma vibração moderna, quase boémia, nos bares de Leith e nas livrarias escondidas da Old Town.







Esta rota — de Glasgow a Edimburgo, atravessando o coração das Highlands — é mais do que uma viagem: é uma imersão numa Escócia rica em contrastes, mitos e beleza selvagem. Ideal para quem quer sentir a alma do país sem pressas, deixando-se guiar pela estrada e pelo encanto de cada paragem.
Na minha opinião, uma excelente rota para 7 dias na Escócia. Deixo-vos a que fiz:
Dia 1 – Glasgow → Glencoe
Distância: 150 km | Duração: ~2h30
Partida de Glasgow, uma cidade dinâmica com muita cultura urbana. Se tiveres tempo, visita o Kelvingrove Museum ou a Catedral.
Segue em direção a norte pela A82, atravessando o Loch Lomond & Trossachs National Park. Há vários pontos para parar, como Luss ou o miradouro de Rest and Be Thankful.
Chegada a Glencoe, um dos vales mais dramáticos da Escócia. Paisagens montanhosas e atmosfera selvagem.
Visita ao Glencoe Visitor Centre e à reconstruída turf house (casa tradicional de turfa).
Glencoe → Fort William → Glenfinnan
Distância: 30–40 km | Duração: 45 min
Curta viagem até Fort William, ideal para pequeno-almoço e abastecer.
Podes subir (ou apanhar o teleférico) ao Ben Nevis, a montanha mais alta do Reino Unido.
De tarde, visita o Viaduto de Glenfinnan, famoso pelo comboio de Harry Potter. Tenta coincidir com a passagem do Jacobite Steam Train (ver horários).
À beira do viaduto, visita também o Glenfinnan Monument, junto ao Loch Shiel.
Dia 3 – Fort William → Loch Ness → Inverness
Distância: 110 km | Duração: 2h30 (sem paragens)
A estrada entre Fort William e Loch Ness é lindíssima — segue sempre pela A82, com o lago à tua direita.
Paragem no Urquhart Castle, com uma das vistas mais emblemáticas do lago.
Se gostares de lendas, visita o Loch Ness Centre, em Drumnadrochit.
Chegada a Inverness, considerada a "capital das Highlands".
Dia 4 – Inverness → Pitlochry → Edimburgo (via Cairngorms)
Distância: 250 km | Duração: ~4h (com paragens)
Saída de Inverness rumo a sul, atravessando o Cairngorms National Park.
Paragem em Aviemore (ideal para caminhadas ou um passeio de comboio antigo) ou em Pitlochry, uma vila encantadora com arquitetura vitoriana e destilarias de whisky.
Continuação da viagem até Edimburgo.
Dia 5 e 6 – Edimburgo
Explora o Castelo de Edimburgo, a Royal Mile, o Palácio de Holyrood, os jardins de Princes Street e, se gostares de caminhadas, sobe ao Arthur's Seat.
Para algo diferente, visita Dean Village ou faz uma degustação de whisky num dos bares históricos.