A volta à Escócia

26-07-2025

Há viagens que nos marcam para sempre — não apenas pelos lugares que visitamos, mas pelas histórias que se entrelaçam com cada paisagem, pelas pessoas que cruzam o nosso caminho e pelo silêncio cheio de significado que encontramos no meio da natureza. A Escócia foi, para mim, uma dessas viagens. Dei a volta ao país e descobri muito mais do que castelos e lagos misteriosos: encontrei uma terra de contrastes, onde o passado se sente em cada ruína e a beleza bruta das montanhas nos lembra o quão pequenos somos perante a grandeza do mundo natural.

Rota pela Escócia: De Glasgow a Edimburgo, passando pelo coração das Highlands

Comecei a minha viagem em Glasgow, uma cidade vibrante que respira cultura, música e arte urbana. Não foi a minha cidade favorita, considero até que fiquei mal impressionada mal aterrei, contudo, decidi dar uma segunda oportunidade. Depois de explorar as margens do Clyde, visitar a Catedral e absorver a energia criativa do West End, pus-me a caminho rumo ao norte — com as Highlands no horizonte.

A estrada leva-nos por paisagens cada vez mais dramáticas: montanhas cobertas de névoa, lagos silenciosos e vilas que parecem paradas no tempo. Uma paragem obrigatória é Glencoe, um vale de cortar a respiração que carrega séculos de história e tragédia. Mesmo sob chuva (ou talvez por causa dela), o lugar tem uma beleza quase sobrenatural.

A Turf House da Escócia: quando a terra se transforma em abrigo

No meio da imponência das Highlands escocesas, onde as montanhas parecem tocar as nuvens e o silêncio fala mais alto do que qualquer palavra, há uma pequena construção que passa facilmente despercebida. Coberta de vegetação, quase camuflada na paisagem, está uma turf house — uma casa tradicional feita de turfa (solo vegetal), madeira e urze. Visitei uma dessas casas em Glencoe, e foi top.

Estas casas, comuns em tempos antigos, eram construídas com o que a terra dava. A turfa, retirada diretamente do solo, servia para levantar as paredes espessas. O telhado era feito com ramos, palha ou urze, criando um isolamento natural perfeito para enfrentar o clima severo da região. O interior era escuro, mas acolhedor. No chão, uma lareira simples aquecia o espaço e servia para cozinhar, e o fumo escapava lentamente por entre os ramos do telhado, deixando no ar aquele cheiro intenso e ancestral a madeira queimada e húmus.

A casa que visitei faz parte do Glencoe Visitor Centre, uma reconstrução fiel baseada em documentação histórica. Não é uma atração turística no sentido habitual — não há folhetos coloridos ou vitrines. Em vez disso, é uma experiência sensorial e imersiva: caminha-se pela relva até encontrar a pequena casa, entra-se por uma porta baixa e, de repente, estamos num outro tempo. Um tempo em que os seres humanos viviam em contacto direto com a terra.

O mais bonito? A forma como a casa se integra na paisagem, quase como se tivesse brotado do solo. Vista de longe, confunde-se com um monte coberto de erva. Mas por dentro, revela-se abrigo, história e engenho.

Seguindo a rota em direção a Fort William, os contrastes tornam-se mais evidentes — o verde intenso da vegetação, o cinzento das montanhas e a vastidão do Loch Linnhe. Aqui encontrei uma das minhas paisagens favoritas, o viaduto do Harry Potter

O Viaduto de Glenfinnan: magia sobre carris nas Highlands escocesas

A cerca de 30 minutos de Fort William, encontra-se um dos cenários mais icónicos da Escócia — e do cinema: o Viaduto de Glenfinnan, a impressionante ponte de pedra por onde passa o famoso comboio de Harry Potter a caminho de Hogwarts.

Construído no final do século XIX, este viaduto ferroviário é uma verdadeira obra de engenharia, com 21 arcos graciosos que se estendem por mais de 300 metros, atravessando um vale verdejante com vista para o Loch Shiel. Mas foi graças ao cinema que este lugar ganhou fama mundial: foi aqui que o Hogwarts Express, na verdade o histórico comboio a vapor Jacobite, foi filmado a atravessar o vale, com o seu característico fumo branco a desenhar-se contra o céu escocês.

Estar ali, em Glenfinnan, é como entrar numa cena de filme. Se tiveres sorte com o horário, podes ver o comboio a vapor a passar sobre o viaduto — um momento mágico, mesmo para quem não é fã de Harry Potter.

Mais à frente, a estrada serpenteia até ao lendário Loch Ness, onde não resisti a parar para procurar sinais do famoso monstro (sem sucesso, claro). O lago é imenso, sereno e envolto em lendas, com o castelo de Urquhart a espreitar do alto da colina — uma das vistas mais icónicas da Escócia.

De lá, Inverness surge como a "capital das Highlands", pequena, acolhedora e perfeita para um passeio junto ao rio Ness. Aproveitei para provar algumas especialidades locais e conversar com habitantes — sempre dispostos a partilhar histórias e recomendações.

A descida rumo a Edimburgo revelou um lado diferente da Escócia: mais planícies, aldeias agrícolas e castelos perdidos no meio do nada. Edimburgo, no final do percurso, é uma recompensa majestosa. A cidade impressiona com a sua arquitetura medieval, as ruas de pedra e o Castelo erguido sobre a rocha. Mas há também uma vibração moderna, quase boémia, nos bares de Leith e nas livrarias escondidas da Old Town.


Esta rota — de Glasgow a Edimburgo, atravessando o coração das Highlands — é mais do que uma viagem: é uma imersão numa Escócia rica em contrastes, mitos e beleza selvagem. Ideal para quem quer sentir a alma do país sem pressas, deixando-se guiar pela estrada e pelo encanto de cada paragem.


Na minha opinião, uma excelente rota para 7 dias na Escócia. Deixo-vos a que fiz:

Dia 1 – Glasgow → Glencoe

Distância: 150 km | Duração: ~2h30

  • Partida de Glasgow, uma cidade dinâmica com muita cultura urbana. Se tiveres tempo, visita o Kelvingrove Museum ou a Catedral.

  • Segue em direção a norte pela A82, atravessando o Loch Lomond & Trossachs National Park. Há vários pontos para parar, como Luss ou o miradouro de Rest and Be Thankful.

  • Chegada a Glencoe, um dos vales mais dramáticos da Escócia. Paisagens montanhosas e atmosfera selvagem.

  • Visita ao Glencoe Visitor Centre e à reconstruída turf house (casa tradicional de turfa).

Glencoe → Fort William → Glenfinnan

Distância: 30–40 km | Duração: 45 min

  • Curta viagem até Fort William, ideal para pequeno-almoço e abastecer.

  • Podes subir (ou apanhar o teleférico) ao Ben Nevis, a montanha mais alta do Reino Unido.

  • De tarde, visita o Viaduto de Glenfinnan, famoso pelo comboio de Harry Potter. Tenta coincidir com a passagem do Jacobite Steam Train (ver horários).

  • À beira do viaduto, visita também o Glenfinnan Monument, junto ao Loch Shiel.

Dia 3 – Fort William → Loch Ness → Inverness

Distância: 110 km | Duração: 2h30 (sem paragens)

  • A estrada entre Fort William e Loch Ness é lindíssima — segue sempre pela A82, com o lago à tua direita.

  • Paragem no Urquhart Castle, com uma das vistas mais emblemáticas do lago.

  • Se gostares de lendas, visita o Loch Ness Centre, em Drumnadrochit.

  • Chegada a Inverness, considerada a "capital das Highlands".

Dia 4 – Inverness → Pitlochry → Edimburgo (via Cairngorms)

Distância: 250 km | Duração: ~4h (com paragens)

  • Saída de Inverness rumo a sul, atravessando o Cairngorms National Park.

  • Paragem em Aviemore (ideal para caminhadas ou um passeio de comboio antigo) ou em Pitlochry, uma vila encantadora com arquitetura vitoriana e destilarias de whisky.

  • Continuação da viagem até Edimburgo.

Dia 5 e 6 – Edimburgo

  • Explora o Castelo de Edimburgo, a Royal Mile, o Palácio de Holyrood, os jardins de Princes Street e, se gostares de caminhadas, sobe ao Arthur's Seat.

  • Para algo diferente, visita Dean Village ou faz uma degustação de whisky num dos bares históricos.